Japão revela plano para evacuar ilhas perto de Taiwan em caso de conflito

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Fumito Saeki - The Yomiuri Shimbun via AFP

Pela primeira vez, o Japão revelou planos para retirar mais de 100 mil civis de algumas das suas ilhas remotas perto de Taiwan em caso de conflito na região, à medida que aumentam as tensões entre Pequim e Taipé.

A ameaça de uma invasão chinesa em Taiwan levou o Japão a intensificar as medidas para proteger as suas ilhas perto de região.

De acordo com a agência de notícias Kyodo, o plano prevê a mobilização de navios e aviões que seriam capazes de transportar cerca de 110.000 moradores e 10.000 turistas das ilhas de Sakishima, no extremo sudoeste do Japão.

As pessoas retiradas das ilhas seriam levadas para oito províncias no sudoeste e oeste do Japão em seis dias. Tóquio disse ainda que planeia realizar exercícios de evacuação nas ilhas Sakishima, que fazem parte da província de Okinawa, a partir de abril do próximo ano.

O Governo do Japão também planeia colocar unidades de mísseis guiados em Yonaguni , localizada a 100 quilómetros de Taiwan. A ilha, sede de uma base de força de autodefesa japonesa, está a construir abrigos subterrâneos temporários abastecidos com comida e água suficientes para duas semanas, segundo os media japoneses.

“Quero tomar todas as medidas possíveis para a defesa do nosso país”, disse o ministro da Defesa do Japão, Gen Nakatani, que afirmou que sentiu uma “forte sensação de perigo” entre a população que vive nas remotas ilhas fronteiriças do Japão.
Aumento da tensão entre Pequim e Taipé
O Governo japonês diz que o plano não visa nenhum cenário específico e Taiwan não é mencionado diretamente nos planos, mas a preocupação com um eventual conflito na região aumentou desde a invasão russa da Ucrânia e o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

Com Joe Biden na presidência, o apoio dos EUA a Taiwan parecia estar garantido, mas com Donald Trump tudo permanece incerto. O republicano tem evitado comprometer-se a impedir uma invasão chinesa de Taiwan, à medida que se aproxima do seu homólogo chinês, Xi Jinping. Há mais de sete décadas que os Estados Unidos estão no centro das disputas entre as duas partes, uma vez que Washington é o principal fornecedor de armas a Taipé e, embora oficialmente não mantenha relações diplomáticas com a ilha, poderia defendê-la em caso de conflito com Pequim.

Para além disso, o Japão está também preocupado com a relação com os EUA sob a presidência de Trump, depois de o republicano ter afirmado que o tratado de segurança entre Tóquio e Washington - que pressupõe que os EUA defendam o Japão caso este seja atacado - não era recíproco.

"Temos um ótimo relacionamento com o Japão, mas temos um acordo interessante com o Japão de que temos que protegê-los, mas eles não precisam de nos proteger”, disse Trump no início deste mês.

“É assim que o acordo é lido. E a propósito, eles fazem uma fortuna connosco economicamente. Eu realmente pergunto: quem faz estes acordos?”, questionou.

Nos últimos anos, a China intensificou a pressão militar e política sobre Taiwan – uma ilha autónoma que Pequim considera ser território chinês e acredita que deveria ser “reunificada”. A China avisou mesmo que não vai renunciar ao uso de força para travar a independência da ilha.
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